O Privilégio de Morar numa Ilha
- jg
- 22 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de fev. de 2024
(2021) Em Plena Pandemia


"Estamos na Edição Especial da Activa ‘Planeta Verde’ ☺️ a jornalista Catarina Fonseca entrevistou-me com muita atenção… Nem sempre a inteligência anda de mão dada com o coração, ‘não é para todos’… Mas quando acontece, o resultado é sempre bom e verdadeiro ♥️
"Esta imensidão e silêncio para mim não é sinal de vazio. é sinal de abundância, de espaço, de conexão"
"Eu e o meu marido já costumávamos vir para cá passar férias, e há uns anos surgiu a oportunidade de comprar uma casinha aqui. Resolvemos investir, e foi o melhor que fizemos na vida.
O Pedro tem dois rapazes e eu tenho duas raparigas, mas ja estão todos crescidos e fora das nossas mãos. Morávamos em Telheiras, Lisboa, e quando apareceu a pandemia o Pedro conseguiu trabalhar à distancia é publicitário e eu também, de forma que viemos para aqui.
Estudei design em Milão e psicologia em Portugal, estudei marketing digital, e fiz de tudo um pouco na vida, basicamente sou um canivete suíço [risos].
A experiência mais peculiar que tive foi quando estive a vender produtos orgânicos numa banca de praça. Estive lá três anos, mas depois percebi que os mercados estavam a morrer, e então inventei uma peça que podia vender aos turistas, uma base para panelas feita de trapo, em várias cores e feitios. Chamava-se Toscos, e acabei a fornecer 'toneladas' à Vida Portuguesa.
No primeiro confinamento, viemos para aqui definitivamente. Isto é outro mundo. Estou aqui a falar consigo na areia, a ver água a perder de vista e a fazer desenhos com pauzinhos. Como é que podia voltar para Lisboa?
Hoje continuo a fazer os Toscos por prazer, vou aumentado o stock para quando isto mudar, e organizei-me no Instagram, em @joana.gaspar para contar muitas das minhas experiências, como, por exemplo, a mudança de alimentação e a diferença que isso fez na minha vida: hoje não comemos açúcares nem nada processado. E isto tem tido bastante sucesso.
Claro que nem toda a gente se dá com este isolamento. Eu não sinto solidão e toda esta imensidão, vazio e silêncio para mim não é sinal de vazio, é sinal de abundância, de espaço, de conexão comigo mesma, de pensamento. Há pessoas que se sentiriam aqui muito sós e isso não é mau. Temos simplesmente de saber o que é melhor para nós.
Eu neste momento tenho quatro peças de roupa, ando descalça 24 horas há dez meses porque na ilha não há lixo, e tenho a sola dos pés como o Tarzan [risos]. Mas adoro, porque me sinto mais forte, mais resistente, como se a vida dos humanos fosse para ser esta.
Gosto de tudo, aqui. Gosto da escala, porque embora isto seja imenso, há poucas pessoas e estão próximas. Há ao mesmo tempo liberdade e privacidade.
Aqui percebemos que somos um todo com o nosso ambiente.
Aprendemos a ler o vento, todos os dias vemos de que lado sopra para saber para que lado da ilha havemos de ir. E essa ditadura da natureza é muito libertadora. Pensamos, 'Logo se vê'.
E acabamos por viver muito mais no presente em vez de passarmos a vida a programar tudo e a ficarmos frustrados porque depois nada corre como esperávamos. Aqui vivemos literalmente ao sabor das marés. Claro que continuamos a ser da cidade, portanto ainda não sabemos o que vamos fazer no futuro. Logo se vê."
O Privilégio de Morar numa Ilha
é de tal ordem que, passados três anos, ainda cá estamos :) Volta, não volta damos um salto à casa da cidade grande, para que não se esqueça de nós.
Quem sabe quando, quem sabe um dia, deixamos de poder estar aqui e voltamos para lá.
Logo se vê :)
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